terça-feira, 1 de agosto de 2017

O roubo da alma


Recomendaram-me assistir “Monsieur e madame Adelman”. Fui e agradeço a indicação. É um excelente filme!
No saguão de entrada do cinema encontrei amigos que supunham estarem indo ver  uma comédia romântica. Pela sensibilidade de quem me enviou esta sugestão por email, imaginava que não se tratava bem disso. Acertei, é claro.
O filme remontou-me às leituras de Clarissa Pínkola Estés em seu “Mulheres que correm com os lobos”, quando ela fala do roubo da pele, roubo da alma, a partir do mito “Pele de foca”. Ali, no texto de Clarissa, é a mulher quem perde sua essência. Trabalhei 14 anos com grupos de muitas mulheres e alguns poucos corajosos homens sobre esse tema e outros afins. Sempre procurei dar enfoque ao feminino como força potencial, comum aos dois sexos, mais que ao gênero propriamente dito.
No entanto, atualmente, venho pensando insistentemente, a partir de uma observação apurada sobre os relacionamentos que assisto e de muitos que, por tão próximos, chegam a me preocupar e até ferir de certo modo, em como essa questão tem vindo se propagando e acirrando e de como, muitas vezes, é a mulher que tem sequestrado o espírito do companheiro.
Quando me refiro à mulher e homem, leiam, por favor a função que cada um desempenha, na relação, qualquer que seja o tipo de casal.
Em “Monsieur e madame Adelman” acontece justamente essa mistura de identidades e esse aprisionamento do outro, por ressentimento, insegurança, obstinação, inveja, tudo muito bem disfarçado no invólucro denominado amor, casamento, parceria.
Conheço esse roteiro e posso testemunhar, com segurança, que não acaba bem.
Saí do filme triste, cansada, apressada em regressar à mim.
Aos 69 anos, muitas relações pessoais, dois casamentos, amores intensos e espectadora/cuidadora de muitos envolvimentos a meu redor, não consegui me vacinar contra desencanto, manipulação, distorção, controle. Embora meu faro me permita identifica-los à distância, sinto-me impotente frente à inebriante atmosfera que o encantamento cria e às distorções que cria.
“Monsieur e madame Adelman” traz o espelho e a possibilidade de reflexão.

Endosso aqui a recomendação.

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